Disciplina Curricular

Imunofarmacologia Imunof

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas - Despacho n.º 3790/2019

Peso

3.0 (para cálculo da média)

Objectivos

A Imunofarmacologia tem-se revelado uma área de conhecimento de valor crescente no panorama recente e futuro dos medicamentos (medicamentos biológicos e anticorpos monoclonais, terapias avançadas, biosimilares, medicamentos órfãos, fármacos oncológicos, etc.). A Imunofarmacologia é um ramo da Farmacologia que se foca na regulação seletiva das respostas imunológicas e tem como objetivo a elucidação e exploração de opções terapêuticas para necessidades clínicas em doenças típicas e não- típicas com uma componente imunitária. A American Society for Pharmacology and Experimental Pharmacology (ASPET), uma das sociedades mais prestigiadas na área da Farmacologia e Farmacoterapia, publicou em 2015 um documento de reflexão sobre o âmbito e futuro da Farmacologia. Nesta publicação, a ASPET inclui a Imunofarmacologia como uma das principais áreas que “os farmacologistas estudarão no futuro”. Uma publicação de 2015 também considerou que a Imunofarmacologia é uma das áreas da Farmacologia em franca expansão. As componentes científica e regulatória da Imunofarmacologia no contexto do desenvolvimento de novos medicamentos ganha um foco particularmente importante no que concerne ao estudo da Imunotoxicologia e mecanismos associados. O potencial imunotoxicológico dos medicamentos tem recebido muita atenção nos últimos anos, principalmente com o cada vez maior desenvolvimento dos medicamentos biotecnológicos, existindo inclusivamente normas orientadoras elaboradas pelas Agências Reguladoras que orientam o estudo imunotoxicológico dos medicamentos (ICH S6R1 e ICH S8). O melhor exemplo da necessidade desses estudos foi o do fármaco experimental TGN1412, um super-agonista do recetor CD-28 para o tratamento de doenças autoimunes e leucemia que em 2006, após uma primeira administração a humanos, levou a um grave síndrome de libertação de citocinas que colocou 6 doentes em disfunção múltipla de órgãos. A libertação de citocinas observada decorreu do mecanismo de ação do TGN1412, e a toxicidade observada nos sujeitos do ensaio clínico pode considerar-se um “excesso farmacológico”. Por analogia com os estudos de Farmacologia de segurança, estudos de imunotoxicologia de segurança devem ser considerados cuidadosa e atempadamente durante o processo de desenvolvimento de novos medicamentos, particularmente os obtidos por meios de biotecnologia. Numa perspetiva mais clínica e direcionada ao doente, particularmente na área específica da imunologia do cancro, os últimos anos têm sido palco de grandes avanços científicos e clínicos e têm aproximado duas áreas que sempre tiveram uma ligação mecanística próxima. Em Fevereiro de 2017, uma das Sociedades Científicas mais prestigiadas na área da Oncologia, a American Society of Clinical Oncology (ASCO), publicou o relatório periódico anual “Clinical Cancer Advances 2016” em que elegeu como o Avanço do Ano 2016 a Imunoterapia do Cancro. De acordo com Julie M. Vose, a Presidente da ASCO, “No recent advance has been more transformative than the rise of immunotherapy, particularly over this past year. These new therapies are not only transforming patient lives, they are also opening intriguing avenues for further research”. Citando outra das Instituições de renome mundial na área da investigação oncológica, o Cancer Research Institute, “Cancer immunotherapy represents the most promising new cancer treatment approach since the development of the first chemotherapies in the late 1940s”. Essa foi aliás uma das previsões feitas por um artigo de opinião publicado na Nature Reviews Drug Discovery em 2010. Daan Crommelin e colegas fizeram a previsão de um cenário em que na década de 2010-2020 os fármacos inovadores na área da imunologia e oncologia iriam mudar completamente o tratamento de algumas das doenças mais relevantes. Em 2015 a European Medicines Agency (EMA) aprovou o primeiro fármaco de imunoterapia da classe dos bloqueadores de checkpoint (pembrolizumab) para tratamento do melanoma avançado. Até este ponto a esperança de vida para doentes com este tipo tumoral era medido em meses, no entanto as novas imunoterapias prolongam este tempo para anos. O tratamento do melanoma parece ser apenas a ponta do icebergue para o potencial das imunoterapias e em 2015 vários ensaios clínicos têm aumentado a esperança no tratamento efetivo de vários tumores tradicionalmente resistentes às terapêuticas convencionais, incluindo neoplasias avançadas do pulmão, rim, bexiga, tumores da cabeça e pescoço e linfoma de Hodgkin. Os recentes sucessos na área da imunoterapia do cancro têm sido considerados como uma nova dimensão na medicina personalizada. Tanto a utilização da imunoterapia isoladamente como em combinação com as abordagens tradicionais (quimioterapia e radioterapia) têm obtido resultados bastante positivos em ensaios clínicos tornando a imunoterapia personalizado do cancro uma das abordagens mais promissoras dos últimos anos para os doentes oncológicos. É reconhecido que muitos processos celulares envolvidos na formação de tumores dependem de vias associadas a processos imunológicos ou inflamatórios. No contexto da educação dos futuros farmacêuticos a Oncologia tem ganho uma importância cada vez maior. A Oncologia é desde há muito tempo uma das áreas de excelência e especialização do Farmacêutico Hospitalar. O Farmacêutico Hospitalar em Portugal está envolvido em todas as fases do circuito da Terapêutica Oncológica, nomeadamente através da sua presença nas Comissões de Farmácia e Terapêutica das várias Unidades Hospitalares, na Comissão de Avaliação de Medicamentos do INFARMED, assim como na Comissão de Avaliação de Tecnologias de Saúde sob a alçada do Ministério da Saúde. A nível hospitalar intervém na escolha dos protocolos terapêuticos, monitorização da terapêutica e preparação das formulações a ser administradas aos doentes. Foi promulgado um decreto-lei em 2016 que permite às farmácias comunitárias a prestação de serviços de intervenção em saúde pública. O decreto-lei permite a venda de medicamentos oncológicos e para o VIH/sida em algumas farmácias comunitárias. O diploma prevê ainda “a atribuição de uma remuneração específica às farmácias por dispensa de medicamentos comparticipados, designadamente nos medicamentos inseridos em grupos homogéneos”. Esta iniciativa vem na sequência da publicação do Despacho no 199/2016, que relança a reforma dos cuidados de saúde hospitalares, e que prevê "a valorização do papel das farmácias comunitárias enquanto agentes de prestação de cuidados, apostando no desenvolvimento de medidas de apoio à utilização racional do medicamento e aproveitando os seus serviços, em articulação com as unidades do SNS, para nelas ensaiar a delegação parcial da administração de terapêutica oral em oncologia e doenças transmissíveis". Tendo em conta o papel polivalente do farmacêutico nas várias áreas dos medicamentos oncológicos acrescido destas novas responsabilidades que o Farmacêutico exerce no contexto do Sistema Nacional de Saúde, nomeadamente a dispensa de medicamentos oncológicos em Farmácia Comunitária, torna-se necessário que os futuros farmacêuticos possuam um mais aprofundado conhecimento sobre os mecanismos envolvidos na iniciação e na progressão de neoplasias. Inclusivamente, os futuros farmacêuticos têm o potencial e a oportunidade de participar ativamente no avanço científico de novas imunoterapias do cancro. Representando um papel único e privilegiado como ponte de ligação entre o medicamento e o doente, o farmacêutico deve possuir as bases científicas para participar ativamente no futuro da investigação do cancro que envolverá a personalização e translação da terapêutica, colocando-se na fronteira entre a fase experimental e clínica do desenvolvimento de medicamentos tornando-se parte integrante da abordagem “from bench to bedside” ao desenvolvimento de medicamentos que tem sido aplicada com sucesso no desenvolvimento de medicamentos oncológico.

Programa

I) Componente Introdutória – Bases Imunofarmacológicas a) Importância da Imunofarmacologia no panorama actual dos medicamentos - Oncologia - Doenças Autoimunes e Doenças Infecciosas - Medicamentos Biológicos (anticorpos monoclonais, proteínas de fusão) - Terapias Avançadas (terapia génica, células estaminais, engenharia de tecidos) - Medicamentos Órfãos e Doenças Raras b) Mecanismos gerais e mediadores dos processos imunológicos/inflamatórios - células dendríticas, complemento, linfócitos B e T, neutrófilos e outros células polimorfonucleares, moléculas de adesão, factores de transcrição, citocinas, receptores de superfície de células do sistema imunitário, receptores Toll-like. Potencial para modulação farmacológica. c) Regulação Imunológica do Cancro e alvos imunoterapêuticos - principais processos de divisão, proliferação, apoptose e morte celular e a sua importância na regulação dos processos neoplásicos. Células do sistema imunitário e vias celulares associadas com capacidade de regulação do ciclo de vida celular. Identificação de potenciais alvos para modulação farmacológica. d) Fármacos Imunomoduladores – utilização clínica dos fármacos imunossupressores e imunoestimulantes. Principais classes terapêuticas utilizadas, mecanismos de acção, indicações terapêuticas, efeitos adversos e contraindicações. Principais desvantagens das terapêuticas existentes e espaço para introdução de fármacos inovadores no tratamento de doentes refractários às terapêuticas de primeira linha. II) Fundamentos de Imunotoxicologia III) Componente de aplicação farmacoterapêutica – Imunoterapia (PBLs/TBLs) a) Terapêuticas com base Imunofarmacológica - Doenças Autoimunes. Aplicação dos conhecimentos de imunoterapia e análise de indicações terapêuticas, efeitos adversos e contraindicações. Fundamentação das decisões terapêuticas com base na razão benefício-risco. Resolução de casos práticos. - Doenças Infecciosas. Aplicação dos conhecimentos de imunoterapia e análise de indicações terapêuticas, efeitos adversos e contraindicações. Fundamentação das decisões terapêuticas com base na razão benefício-risco. Resolução de casos práticos. - Transplantes (transplantes de órgãos sólidos e transplante de medula, utilização de células estaminais hematopoiéticas e linfócitos T modificados). Aplicação dos conhecimentos de imunoterapia e análise de indicações terapêuticas, efeitos adversos e contraindicações. Fundamentação das decisões terapêuticas com base na razão benefício-risco. Resolução de casos práticos. - Choque Séptico/Hemorrágico/Térmico/Anafilático). Aplicação dos conhecimentos de imunoterapia e análise de indicações terapêuticas, efeitos adversos e contraindicações. Fundamentação das decisões terapêuticas com base na razão benefício-risco. Resolução de casos práticos. b) Imunoterapia do Cancro b1) Fundamentos dos diversos tipos de imunoterapia - Anticorpos monoclonais (fármacos aprovados, mecanismos de acção, principais indicações terapêuticas, efeitos adversos) - “Checkpoint inhibitors” (importância da proteína PD-1 na regulação neoplásica, fármacos aprovados, mecanismos de acção, principais indicações terapêuticas, efeitos adversos e terapêutica combinada) - Vacinas oncológicas (racional farmacológico, fármacos aprovados, mecanismos de acção, principais indicações terapêuticas, efeitos adversos) - Terapêutica viral oncolítica (racional farmacológico, fármacos aprovados, mecanismos de acção, principais indicações terapêuticas, efeitos adversos) - Terapêutica celular (racional farmacológico para utilização de Linfócitos T modificados, células estaminais, principais indicações terapêuticas, efeitos adversos.) - Imunoterapias não-específicas (Racional farmacológico para a utilização clínica de interferões, interleucinas como terapêutica principal/adjuvante, indicações terapêuticas e efeitos adversos) b2) Imunoterapia de Neoplasias Hematológicas - Fisiopatologia e racional imunoterapêutico das Neoplasias Hematológicas mais comuns (Linfoma de Hodgkin, Linfoma não-Hodgkin, Leucemias, Mielomas). Apresentação e resolução de casos práticos. b3) Imunoterapia de Tumores Sólidos - Fisiopatologia e racional imunoterapêutico dos tumores sólidos com indicação para tratamento com imunoterapia (Cancro do Pulmão, Melanoma, Cancro da Próstata, Cancro Colo-Rectal, Cancro da Mama, Cancro da Bexiga). Apresentação e resolução de casos práticos.

Métodos de ensino e avaliação

Na lecionação da componente teórica, serão fornecidos os conhecimentos de fisiopatologia e imunologia de uma determinada doença em articulação com os conhecimentos de farmacologia para tratamento dessa doença, como suporte para o ensino dos fundamentos de imunoterapia específicos dessa doença. Cada módulo teórico será concluído com uma componente prática em que se fará a aplicação de exercícios de PBL (Problem-based learning) e TBL (Team-based learning) para integração de conhecimentos e respectiva avaliação, utilizando casos clínicos de doentes com a patologia em estudo e respetiva terapêutica imunológica. Durante o ensino dos conhecimentos teóricos de base será sempre feita a ligação com a aplicação prática desses conhecimentos para manter a componente clínica presente no ensino teórico, facilitando a integração dos conhecimentos. O ensino prático incidirá também nos módulos iniciais de bases imunofarmacológicas e de farmacotoxicologia, sendo apresentados casos práticos para análise e discussão. A avaliação consistirá em duas componentes: a avaliação prática será avaliada por intermédio de casos práticos realizados individualmente e em grupo e terá uma ponderação de 50% na nota final; e a avaliação teórica consistirá numa avaliação final (incluindo aplicação prática dos conhecimentos teóricos) e terá uma ponderação de 50% na nota final. A avaliação prática será efectuada por intermédio da apresentação e discussão em grupo de casos práticos, guidelines ou artigos. O exame final será uma combinação de respostas de escolha múltipla, questões de resposta rápida e perguntas de desenvolvimento e poderão ser consultados os materiais de consulta que o docente considere necessários para a resolução do exame (guidelines de tratamento, RCMs de medicamentos, artigos científicos, etc).

Disciplinas Execução

2023/2024 - 2º Semestre

2022/2023 - 2º Semestre

2021/2022 - 2º Semestre

2020/2021 - 2º Semestre

2019/2020 - 2 Semestre