Objectivos

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas

A Imunofarmacologia tem-se revelado uma área de conhecimento de valor crescente no panorama recente e futuro dos medicamentos (medicamentos biológicos e anticorpos monoclonais, terapias avançadas, biosimilares, medicamentos órfãos, fármacos oncológicos, etc.). A Imunofarmacologia é um ramo da Farmacologia que se foca na regulação seletiva das respostas imunológicas e tem como objetivo a elucidação e exploração de opções terapêuticas para necessidades clínicas em doenças típicas e não- típicas com uma componente imunitária. A American Society for Pharmacology and Experimental Pharmacology (ASPET), uma das sociedades mais prestigiadas na área da Farmacologia e Farmacoterapia, publicou em 2015 um documento de reflexão sobre o âmbito e futuro da Farmacologia. Nesta publicação, a ASPET inclui a Imunofarmacologia como uma das principais áreas que “os farmacologistas estudarão no futuro”. Uma publicação de 2015 também considerou que a Imunofarmacologia é uma das áreas da Farmacologia em franca expansão. As componentes científica e regulatória da Imunofarmacologia no contexto do desenvolvimento de novos medicamentos ganha um foco particularmente importante no que concerne ao estudo da Imunotoxicologia e mecanismos associados. O potencial imunotoxicológico dos medicamentos tem recebido muita atenção nos últimos anos, principalmente com o cada vez maior desenvolvimento dos medicamentos biotecnológicos, existindo inclusivamente normas orientadoras elaboradas pelas Agências Reguladoras que orientam o estudo imunotoxicológico dos medicamentos (ICH S6R1 e ICH S8). O melhor exemplo da necessidade desses estudos foi o do fármaco experimental TGN1412, um super-agonista do recetor CD-28 para o tratamento de doenças autoimunes e leucemia que em 2006, após uma primeira administração a humanos, levou a um grave síndrome de libertação de citocinas que colocou 6 doentes em disfunção múltipla de órgãos. A libertação de citocinas observada decorreu do mecanismo de ação do TGN1412, e a toxicidade observada nos sujeitos do ensaio clínico pode considerar-se um “excesso farmacológico”. Por analogia com os estudos de Farmacologia de segurança, estudos de imunotoxicologia de segurança devem ser considerados cuidadosa e atempadamente durante o processo de desenvolvimento de novos medicamentos, particularmente os obtidos por meios de biotecnologia. Numa perspetiva mais clínica e direcionada ao doente, particularmente na área específica da imunologia do cancro, os últimos anos têm sido palco de grandes avanços científicos e clínicos e têm aproximado duas áreas que sempre tiveram uma ligação mecanística próxima. Em Fevereiro de 2017, uma das Sociedades Científicas mais prestigiadas na área da Oncologia, a American Society of Clinical Oncology (ASCO), publicou o relatório periódico anual “Clinical Cancer Advances 2016” em que elegeu como o Avanço do Ano 2016 a Imunoterapia do Cancro. De acordo com Julie M. Vose, a Presidente da ASCO, “No recent advance has been more transformative than the rise of immunotherapy, particularly over this past year. These new therapies are not only transforming patient lives, they are also opening intriguing avenues for further research”. Citando outra das Instituições de renome mundial na área da investigação oncológica, o Cancer Research Institute, “Cancer immunotherapy represents the most promising new cancer treatment approach since the development of the first chemotherapies in the late 1940s”. Essa foi aliás uma das previsões feitas por um artigo de opinião publicado na Nature Reviews Drug Discovery em 2010. Daan Crommelin e colegas fizeram a previsão de um cenário em que na década de 2010-2020 os fármacos inovadores na área da imunologia e oncologia iriam mudar completamente o tratamento de algumas das doenças mais relevantes. Em 2015 a European Medicines Agency (EMA) aprovou o primeiro fármaco de imunoterapia da classe dos bloqueadores de checkpoint (pembrolizumab) para tratamento do melanoma avançado. Até este ponto a esperança de vida para doentes com este tipo tumoral era medido em meses, no entanto as novas imunoterapias prolongam este tempo para anos. O tratamento do melanoma parece ser apenas a ponta do icebergue para o potencial das imunoterapias e em 2015 vários ensaios clínicos têm aumentado a esperança no tratamento efetivo de vários tumores tradicionalmente resistentes às terapêuticas convencionais, incluindo neoplasias avançadas do pulmão, rim, bexiga, tumores da cabeça e pescoço e linfoma de Hodgkin. Os recentes sucessos na área da imunoterapia do cancro têm sido considerados como uma nova dimensão na medicina personalizada. Tanto a utilização da imunoterapia isoladamente como em combinação com as abordagens tradicionais (quimioterapia e radioterapia) têm obtido resultados bastante positivos em ensaios clínicos tornando a imunoterapia personalizado do cancro uma das abordagens mais promissoras dos últimos anos para os doentes oncológicos. É reconhecido que muitos processos celulares envolvidos na formação de tumores dependem de vias associadas a processos imunológicos ou inflamatórios. No contexto da educação dos futuros farmacêuticos a Oncologia tem ganho uma importância cada vez maior. A Oncologia é desde há muito tempo uma das áreas de excelência e especialização do Farmacêutico Hospitalar. O Farmacêutico Hospitalar em Portugal está envolvido em todas as fases do circuito da Terapêutica Oncológica, nomeadamente através da sua presença nas Comissões de Farmácia e Terapêutica das várias Unidades Hospitalares, na Comissão de Avaliação de Medicamentos do INFARMED, assim como na Comissão de Avaliação de Tecnologias de Saúde sob a alçada do Ministério da Saúde. A nível hospitalar intervém na escolha dos protocolos terapêuticos, monitorização da terapêutica e preparação das formulações a ser administradas aos doentes. Foi promulgado um decreto-lei em 2016 que permite às farmácias comunitárias a prestação de serviços de intervenção em saúde pública. O decreto-lei permite a venda de medicamentos oncológicos e para o VIH/sida em algumas farmácias comunitárias. O diploma prevê ainda “a atribuição de uma remuneração específica às farmácias por dispensa de medicamentos comparticipados, designadamente nos medicamentos inseridos em grupos homogéneos”. Esta iniciativa vem na sequência da publicação do Despacho no 199/2016, que relança a reforma dos cuidados de saúde hospitalares, e que prevê "a valorização do papel das farmácias comunitárias enquanto agentes de prestação de cuidados, apostando no desenvolvimento de medidas de apoio à utilização racional do medicamento e aproveitando os seus serviços, em articulação com as unidades do SNS, para nelas ensaiar a delegação parcial da administração de terapêutica oral em oncologia e doenças transmissíveis". Tendo em conta o papel polivalente do farmacêutico nas várias áreas dos medicamentos oncológicos acrescido destas novas responsabilidades que o Farmacêutico exerce no contexto do Sistema Nacional de Saúde, nomeadamente a dispensa de medicamentos oncológicos em Farmácia Comunitária, torna-se necessário que os futuros farmacêuticos possuam um mais aprofundado conhecimento sobre os mecanismos envolvidos na iniciação e na progressão de neoplasias. Inclusivamente, os futuros farmacêuticos têm o potencial e a oportunidade de participar ativamente no avanço científico de novas imunoterapias do cancro. Representando um papel único e privilegiado como ponte de ligação entre o medicamento e o doente, o farmacêutico deve possuir as bases científicas para participar ativamente no futuro da investigação do cancro que envolverá a personalização e translação da terapêutica, colocando-se na fronteira entre a fase experimental e clínica do desenvolvimento de medicamentos tornando-se parte integrante da abordagem “from bench to bedside” ao desenvolvimento de medicamentos que tem sido aplicada com sucesso no desenvolvimento de medicamentos oncológico.